Apesar da campanha dos propagandistas a soldo do Governo tentar mostrar o contrário, o facto é que houve ataque em Quitunda, a vila de reassentamento das famílias afectadas pelo projecto Mozambique LNG. A fotografia que acompanha a publicação mostra uma casa da vila de reassentamento com perfurações de balas. O ataque ocorreu no dia 01 de Janeiro de 2021 e forçou a Total E&P Mozambique Area 1, operador do projecto Mozambique LNG, a evacuar parte do seu acampamento de Afungi. E não era para menos: a vila de Quitunda fica paredes-meias com a zona industrial do projecto Mozambique LNG. Isto é: está dentro da área concessionada e a uma distância de aproximadamente um quilómetro da vedação que protege o acampamento de Afungi.
Desde o início dos ataques em Outubro de 2017, os terroristas nunca tinham estado tão perto do centro dos projectos de gás do Rovuma. Em Dezembro último, realizaram três incursões a sul de Afungi: duas em Mute, a mais ou menos 20 quilómetros do acampamento, e uma em Monjane, a cinco quilómetros. Este ataque ocorrido a cinco quilómetros do acampamento de Afungi deixou em alerta máximo as Forças de Defesa e Segurança (FDS) que protegem a zona das operações petrolíferas. Mesmo estando de sobreaviso, elas só conseguiram travar o inimigo à entrada de Afungi.
A aproximação dos insurgentes ao centro das operações petrolíferas, seu principal alvo, é reveladora das dificuldades que as FDS enfrentam para conter o avanço do inimigo. A aproximação dos insurgentes à península de Afungi coloca em risco o avanço projecto Mozambique LNG, um investimento tão necessário quanto oportuno para a transformação estrutural da economia de Moçambique. E porque a realidade no terreno sugere que o conflito irá se prolongar por mais tempo, o Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD) defende a tomada de medidas urgentes com vista a proteger os investimentos em curso na bacia do Rovuma.
Uma das medidas seria a criação de uma espécie de zona exclusiva de Afungi, com um perímetro de segurança para a protecção dos trabalhadores, infra-estruturas e outros activos. Não se trata de defender o capital financeiro internacional, mas sim de proteger projectos de investimento que têm o potencial de transformar a economia do País e de reduzir a vulnerabilidade dos jovens ao recrutamento pelos grupos extremistas. Isto é, o avanço dos projectos de gás do Rovuma num ambiente de segurança pode ser parte da solução para os problemas que afectam Cabo Delgado, sobretudo as causas internas do conflito.